SPOT! - DROGARIA CENTRAL LOJA DE DISCOS
Atualizado: 7 de fev.
Rua Capitão Leitão 14B, Almada

Horário:
Quarta e Quinta
14:00 - 20:00
Sexta e Sábado
14:00 - 22:00
Domingo
14:00 - 20:00
Localizada ao pé da histórica Incrível Almadense, esta pequena loja de discos, gerida por Cristina Morais, conta com um ambiente leve e confortável, contribuição da decoração clássica e da pequena, porém aberta área do interior da loja.
Descobri esta loja através de um amigo que, numa saída ao final da tarde, decidiu levar-me lá.
Na altura, tinha começado a produzir, de forma amadora, sons de hip hop com o uso de samples, o que me levou a descobrir quão pouco eu realmente conhecia do expansivo e profundo mundo da música.
Com esta intriga provocada por um mundo desconhecido, decidi começar o hobby de colecionar discos com o objetivo de explorar música com a qual em raras circunstâncias me cruzaria e muito menos prestaria qualquer atenção.
Como qualquer bom Almadense, a conversa e conexão com o cliente é mais que essencial, é natural, e foi esta receção enérgica e cheia de vida que fez de mim um cliente regular.
Para esta edição, conseguimos entrevistar Cristina Morais, a qual se encontra quase sempre atrás do balcão a receber os clientes, tratar das encomendas online e da gerência da loja.
Acompanhem-nos então, enquanto descobrimos mais sobre a loja e as suas origens!

As origens
Oficialmente, a loja abriria a 5 de julho de 2018, mas a ideia já perdurava na cabeça de Sérgio e Cristina durante a adolescência antes mesmo de se conhecerem.
Em 2009, os dois abririam o Ponto Zurca, um estúdio de gravação, editora e produtora que cobre as áreas da música, cinema, teatro e espetáculo, oferecendo também serviços como marketing, logística e gestão de álbuns, entre outros.
Um pequeno quiosque onde se vendiam os álbuns produzidos servia de vislumbre para o futuro projeto que seria a loja.
Após cerca de 6 anos de atividade, decidiram levar em frente este projeto, comprando um estabelecimento para expandir o pequeno quiosque a uma verdadeira loja focada na venda de discos.
“Porquê a Drogaria Central?”
Quando encontraram a Drogaria Central, na altura desocupada, os dois tomaram um enorme gosto pela identidade visual original e, embora a ideia de mudar de lugar pairasse pelo ar, acabaram por se apegar ao local, passando por um processo de adaptação dos dois lados.
A batalha
Quando Sérgio e Cristina compraram o estabelecimento, este encontrava-se quase em ruínas, com exceção das arcadas e das paredes que ainda se mantinham em pé.
Conta Cristina que uma das paredes quase se desfez, pois era feita de terra, e que muita da mobília teve de ser construída à medida, de modo a adaptar-se ao espaço e a servir para o armazenamento e exposição de discos.
Por estas e outras razões, a abertura da loja demoraria por volta de 2 anos a tornar-se realidade, após muitas obras, limpezas e remodelações.
Mesmo assim após a abertura oficial da loja, esta sofreria muitas remodelações e obras até chegar ao visual que é conhecida por hoje.

Abertura
Abertas as portas em 2018, a loja viria a crescer além de Almada, ganhando algum reconhecimento na área da Grande Lisboa, o que levaria a um crescimento gradual da clientela.
Um dos primeiros artigos feitos sobre a loja seria redigido pelo jornalista Nuno Galopim, para a página Gira-discos, que veio a descobrir a loja ainda antes desta abrir durante as filmagens do cantor António Manuel Ribeiro dos UHF na Cine Incrível.
As fotografias do artigo foram tiradas então durante o período de montagem da loja, ficando a memória de uma espécie de bastidores da loja.
Em comparação com outras lojas, podem não parecer muito ativos nas redes sociais, apesar de estarem presentes em inúmeros eventos e espetáculos em Almada.
Isto acontece porque não têm o hábito de tirar muitas fotografias com os artistas, preferindo republicar as fotos tiradas pelos mesmos apenas se tiverem permissão.
Mesmo com a abertura da loja, continuaram atividade no Ponto Zurca.
De acordo com Cristina, que conhece outras lojas, os donos destes estabelecimentos têm sempre também um negócio à parte, ligado ou não ao mundo da música, para ajudar a cobrir as despesas.
Afinal, estas lojas de discos continuam a ser “um nicho dentro de um nicho”.
“Como é que foram afetados pela pandemia?”
Em 2020, a loja teve de fechar devido à pandemia , o que foi muito mau pois a loja só tinha um ano e meio na altura e pouca clientela.
O Ponto Zurca esteve também num longo período de inatividade causado pela falta de concertos e espetáculos ao vivo e claro, sessões de gravação.
Viram-se então numa situação de constante poupança e contabilidade incertas todos os meses. Nesse tempo, continuaram a vender discos por encomendas online através das redes sociais, e procurar ainda continuar a realizar sessões de gravação e edição de álbuns dentro dos meios possíveis.
Atualmente, finda a pandemia, já pensam em voltar a tirar férias e fins de semana, algo que não foi possível durante o período pós pandemia.

O visual é agradável, sereno, vivo, e como Cristina descreve: “Circunstancial”
Bom design decorativo não surge apenas como consequência de encontrar um sítio bonito, neste caso como ouvimos antes, a loja estava em ruínas, mas mesmo depois de um arranjo ainda só restam paredes brancas e as prateleiras com o seu destaque bordô- ainda havia trabalho a ser feito.
Como foi planeada então a decoração da loja?
De acordo com Cristina, não foi.
“Se tivéssemos aberto a loja só depois de termos pensado nisso tudo, só tínhamos aberto à um mês”
Sendo que decidiram manter os elementos arquitetónicos da antiga drogaria, as prateleiras embutidas na parede com as suas arcadas e pilares escarlate ficaram. A partir daí, os dois construíram gavetas à medida para os discos, equipadas com rodas de forma a deslizar por baixo das prateleiras e expositores, cujos suportes são pernas de máquinas de costura, ideia fruto do amor de Cristina por costura.

A adicionar cor natural ao ambiente estão também algumas plantas a decorar as montras e o interior. Grande parte da cor da loja é resultante dos discos em exposição, os livros e fanzines nas prateleiras, os posters de concertos passados, algumas peças de vestuário, e a ocasional capulana.
A não esquecer, é o letreiro luminoso no exterior; uma tarola com o logótipo da loja,
sendo esta só uma das várias peças de mobília feitas através de instrumentos e
outros objetos não convencionais, em momentos de inspiração súbita.
De uma forma ou outra, tudo é ligado à música.
Expectativas para o futuro?
"Continuar a existir e manter a Ponto Zurca, que é a nossa vida.
Que consigamos acolher mais trabalho dos locais, tanto na música como nas outras artes.
Que continuemos em Almada, nós vivemos aqui, e estamos cá à muito tempo.
Já trabalhamos à muito com a casa da cerca por exemplo, que continue."
Sigam a loja no Instagram: @drogarialojacentraldediscos
Texto e Edição: André Araújo Fotografia: João Melo Revisão Textual: Sérgio Araújo
Originalmente publicado em Dangan Magazine #1 2024